No dia 9 de Outubro foi mais um dia memorável para a Associação Beat Your Limit!. Um dos nossos atletas completou a distância full ironman, desta vez na prova Spirit of 78. Esta prova tem o objetivo de homenagear os primeiros atletas a completar os 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida, naquela que foi a primeira edição do Ironman, realizada no Havai em 1978.
O recém ironman é o nosso atleta Hugo Azevedo, que depois de muitos contra-tempos, conseguiu estar preparado para se desafiar na distância rainha do triatlo de longa distância. Para reviver a experiência deste dia inesquecível, nada como ler o relato na primeira pessoa. Divirtam-se e inspirem-se.
“A minha última prova de triatlo tinha sido realizada em junho de 2019 no triatlo média distância de Caminha, onde não correu como planeado, tendo terminado com uma lesão na anca.
A partir desse mesmo dia o foco passou por tratar a lesão e voltar ainda mais forte em 2020.
Começo o ano a treinar bem e sem dores. No entanto, em março confirma-se o que já se temia desde fevereiro, confinamento devido há pandemia covid. Eu continuei a treinar, mas o que se previa ser para 1 mês passou a 2 meses e nesse momento devido a ter familiares de risco, decido parar de treinar para provas e fazer um ano sabático até tudo voltar ao normal.
As coisas foram melhorando e como sou uma pessoa de desafios, começo a pensar nos objetivos para 2021.
Setúbal triathlon (distância half ironman) em abril e Spirit of 78 (distância Full ironman) em outubro. Toca a treinar! Tudo corria bem até que Setúbal volta a mudar de data para outubro e uma semana antes do Spirit of 78. Algo fácil para quem não fazia praticamente nada desde 2019.
No dia 16 abril acontece o primeiro contratempo. Uma queda de bicicleta provoca uma fratura do rádio e varias escoriações. Eu confesso que foi um grande contratempo, pois sentia-me a evoluir bastante, o que me dava boas indicações para os desafios que tinha pela frente. Fui abaixo, pois a recuperação implicou praticamente 2 meses de recuperação. Com isso, voltei a ganhar peso, o que psicologicamente se tornou num momento bastante duro para mim.
Inicia a época balnear e começam as dificuldades, pois quem é triatleta/nadador salvador sabe o que custa trabalhar e treinar para objetivos nestes 3 meses, mas só os fracos desistem e eu não estou nesse lote.
Chega dia 9 outubro 2021, o momento tão esperado: dia de Ironman Spirit of 78 no Porto. Tudo o que aconteceu neste dia vai ficar gravado para sempre na minha memória, não só por ter sido o dia da minha estreia num full ironman, mas por tudo que aconteceu ao longo deste dia.
Às 04:30 toca o despertador… que “biolência”! No entanto, como tudo já estava tratado no dia anterior, foi só tomar um banho e desfrutar de um bom pequeno almoço feito pela minha Ana, que apesar de não admitir ela adora que eu faça estes desafios. Adora organizar tudo para que não falte nada com todo aquele amor. Confirmo que, mais uma vez, não faltou nada.
Às 05:15 é hora de saída em direção ao palco mágico: o Museu da Imprensa, local de organização.
20 minutos depois e ainda de noite, faço o check-in e coloco as minhas coisas no PT1 e PT2. Depois iriamos ser levados pela organização para o início do 1º segmento que seria quando nascesse o dia, que estava previsto para as 07:40.
Passava pouco das 06:30 e comecei a rever na minha cabeça o que planeava fazer e tinha sido definido em conjunto com o meu treinador João Moita. Passava por completar entre as 12 e as 13 horas mediante os sinais que o corpo ia dando. Chega o meu amigo João Laranjeira que me levou para o local de partida, aproveitei o trajeto para pedir mais umas dicas de quem já fez 4 ironman.
Chegados ao local continuava de noite. A ansiedade aumentava e desejava que nascesse o dia para iniciar a minha jornada e terminar como Homem de Ferro.
Poucos minutos depois chega o meu amigo Káka e o João Moita. Foi outra dose extra de energia para o que se seguia. Estes malucos levantaram-se de madrugada para me ver partir, “adoro-vos”.
07:28, tiro de partida em busca do sonho de ser ironman. Finalizo os 4244mts de natação em 45m09s. Tinha em mente 55/1h, mas estive muito forte. Faço uma transição tranquila e dou início ao segmento que mais me assustava, além de ser o segmento que ia durar mais tempo. Eu nunca tinha feito 180km de bicicleta, mas no final da primeira volta tudo correu como planeado e reparei que a minha mente passava a mensagem para as pernas e não as deixava empolgarem-se. Apesar de ter planeado fazer paragens de 60 em 60km, apenas fiz 2 paragens. A 1ª aos 90km e a segunda aos 150km.
A minha comitiva de apoio começava a chegar, de cada vez que passava no Museu da Impresa o meu núcleo de amigos aumentava, que feliz que estava.
A rolar na bike comigo tive o João, o Joel e o Miguel. Sem nunca andar na roda, só mesmo para sentir a presença deles. Acabo o segmento de ciclismo com 06h46. Tinha idealizado entre 6h/6h30, mas com as paragens que fiz para alimentação, estava no planeado.
Abastecimento feito e bem feito começa a aventura da corrida. Tinha pela frente 42km (uma maratona…nunca tinha feito nenhuma) num trajeto de 7km cada volta. E se nunca estive só, na corrida é que não estive mesmo. Junta-se a mim Káka e João Moita e lá fomos nós para cumprir o meu sonho, o meu desafio. O ritmo era eu que o definia. Eles apenas me “ampararam”. Os km iam passando e tinha sempre mais um amigo que se juntava a mim. Primeiro o Paulo Ribeiro e Nuno Pina, depois o Ricardo e por fim o João. Os kms a passar e eu a sentir nas pernas tudo o que já tinha feito, mas o objetivo esse não saía da minha mente. Por mim, pelos meus amigos, pela escola de triatlo (meninos(as), obrigado pelo vosso apoio), pela associação que represento e por todos aqueles que tiraram a sua tarde e final de tarde para me apoiar, eu tinha que ser um ironman. Começo a sentir alguma indisposição e o ritmo começa a cair, mas tinha na mente que nunca poderia “deixar de comer” porque precisava para o que estava em falta. Nesse momento peço o meu boost (cerelac)! O tempo estava a começar a arrefecer e eu precisava de algo fácil para comer e que me confortasse, um prato de cerelac, uma massagem nas pernas e siga para os últimos 17km. Na última volta o ritmo alterou um pouco, culpa deles que queriam que não passasse das 5horas de corrida. A adrenalina estava no máximo e eu estava perto do meu sonho. Aumento o ritmo e as pernas respondem afirmativamente. Motivados, lá fomos nós como se estivéssemos a começar o segmento.
Que misto de emoção quando finalmente entro pela última vez no museu da imprensa com a bandeira bem alta, passo pela guarda de honra feita pelos Amigos e chego à meta. Apesar de não ouvir a aquela frase mágica que quem faz estas provas anseia ouvir quando corta a linha de chegada, não tem problema, mesmo assim eu tinha acabado de concretizar o sonho de ser um ironman.
Para terminar tenho mesmo de deixar um agradecimento a estas pessoas, pois este troféu tem um pouco de cada um de vocês:
Ana, Tomás, João Moita, João Laranjeira, Káká, Paulo, Ricardo, Tânia, Nuno, Carla, Gil, Cristina Lema, Cristina Lopes, Gabriela, Rui, Nuno P, Joel, Luís, Pedro S, Pedro M e Tó.
Adoro-vos, “WE ARE IRONMAN”“
A Associação Beat Your Limit! felicita o Hugo pela enorme conquista. A sua resilência, foco e coragem marcam todos aqueles que o acompanham. Com o Hugo nada é impossível. Por essa e muitas outras razões, o Hugo tornou-se numa grande fonte de inspiração para todos aqueles que o rodeiam.
FAZ A DIFERENÇA!