Arquivo de etiquetas: fisio

A importância da recuperação após exercícios físicos

A expressão “exercício físico” aplica-se a uma variedade de actividades físicas, que diferem largamente quanto à sua intensidade, duração e quanto às capacidades exigidas para a sua prática. No entanto, independentemente da intensidade e duração colocada em cada actividade física desenvolvida sabemos que em todas há uma série de acções musculares que conduzem a uma alteração do estado basal do organismo.

Na maioria das modalidades desportivas ou exercícios físicos recreativos, os indivíduos treinam e competem contra si próprios, numa tentativa de superarem os seus limites e recordes. Neste sentido dá-se uma enorme importância ao desenvolvimento das capacidades físicas individuais tendo em conta o objectivo delineado para a época, prova, semana, etc, esquecendo-nos muitas vezes de variáveis que podem aumentar a performance desportiva.

A recuperação entre esforços físicos é uma delas. Se por um lado o corpo humano necessita de atividade física, por outro lado também necessita de descanso para um perfeito funcionamento das suas funções vitais. Ou seja, é necessário que haja um equilíbrio entre desgaste e reposição para boa manutenção do estado físico e funcional do corpo.

Se uma das consequências do treino e da competição é a fadiga muscular, caracterizada pela redução da força muscular voluntária máxima e como uma incapacidade do músculo esquelético gerar elevados níveis de força muscular ou manter esses níveis ao longo do tempo, percebemos que é essencial recuperar da melhor forma desse estado de fadiga.

Assim a fadiga surge como um mecanismo de proteção contra possíveis efeitos de deterioração da integridade da fibra muscular, devido à diminuição da disponibilidade de substratos energéticos ao músculo activo durante o exercício físico. Normalmente a fadiga surge após sessões de exercício intenso de treino ou competição, que ultrapassam as capacidades de um atleta para suportar a carga desse mesmo treino ou competição, podendo originar lesões musculares, nomeadamente rupturas do tecido conjuntivo.

Assim sendo a recuperação tem um papel fundamental na performance do atleta e surge como um processo de particular importância em eventos onde um atleta tem mais que uma competição próxima e sessões de treino intensas.

Existem 2 tipos de recuperação: a passiva e a activa.

A recuperação passiva é muito caracterizada pelo carácter individual de cada atleta. Incluem-se nesta recuperação meios como uma adequada nutrição, a massagem, hidromassagem, horas de sono, farmacologia, sauna, etc. É de referir que, de entre todos os meios referidos, o que mais influencia uma recuperação mais rápida e eficaz é a nutrição adequada.

A recuperação activa tem sido considerada uma maneira eficiente na promoção da recuperação da fadiga muscular e consiste na exercitação a intensidade moderada durante a recuperação do exercício de alta intensidade. É considerada uma forma eficaz de acelerar a remoção de lactato.

Tem sido estudado e descrito que o lactato regressa mais rapidamente aos níveis basais quando exercitado a intensidade moderada durante o processo de recuperação do exercício intenso. Esta rápida remoção do lactato é, em parte, explicada na base de que a recuperação activa facilita o aumento da oxidação do lactato através da exercitação muscular. Após uma competição ou treino intenso o esforço físico deverá terminar de forma gradual com um trabalho muscular activo.

Vários estudos comprovam que o processo de recuperação mais rápido é o de recuperação activa.

Tendo já assimilado a ideia que o planeamento da época competitiva e do treino, respeitando os tempos de regeneração activa e passiva, é extremamente importante para aumentar a performance e reduzir lesões (de forma indirecta), vamos enumerar algumas medidas de recuperação passiva.

Como recuperação passiva o próprio atleta poderá desenvolver algumas atitudes que acelerarão a sua recuperação, tornando-o mais apto para os treinos e provas posteriores.

Crioterapia

A crioterapia é definida como um método de remoção do calor corporal, o que actua como um agente acelerador da regeneração muscular e metabólica. Consiste em qualquer forma de aplicação de substâncicrioterapia2as que levam ao arrefecimento dos tecidos com fins terapêuticos.

Pode ser feita colocando bolsas de gelo directamente nas estruturas lesadas ou mais solicitadas, ou pegando um cubo de gelo e massajando directamente as referidas estruturas. Se optarmos por uma aplicação estática de uma bolsa de gelo não devemos exceder os 15min de permanência com o gelo. Se optarmos por uma aplicação directa e dinâmica não devemos ultrapassar os 10min.

crioterapia1Poderemos ainda recorrer à aplicação de sprays de crioterapia sobre a estrutura ou segmento desejado, que vai dar a sensação de frio interno nas referidas estruturas.

Hoje em dia e já muito em voga estão os banhos de imersão em gelo. Existem tinas de imersão em gelo destinadas a esse propósito, ou podemos improvisar e colocar cubos de gelo na banheira ou num recipiente que permita a imersão dos membros em causa nesse mesmo banho crioterapia3de água gelada. A permanência nestes tipos de banhos não é muito consensual, mas as directrizes apontam para 5 a 8 min contínuos, podendo o atleta fazer uma pausa e repetir.

Alongamento

O alongamento é uma rotina importante nos atletas ou praticantes de actividade física. Devolve elasticidade à musculatura, aumenta a flexibilidadalongamento1e das articulações, evita encurtamentos musculares e portanto aumenta a performance desportiva por dar uma melhor estado muscular generalizado.

Uma forma de trabalhar o alongamento conjuntamente com a componente miofascial do nosso corpo é recorrendo aos “recentes” rolos de trabalho miofascial.

alongamento2Rolando os grandes grupos musculares sobre o rolo estamos a libertar o tecido miosfacial e mantendo algumas posturas sobre o rolo podemos aproveitar para alongar também alguns grupos musculares. A sensação de libertação muscular é muito boa e é um trabalho que realizado de forma continua fornece bons resultados.

Sono

Dormir bem e num correcto número de horas é importante para a recuperação muscular pois enquanto dormimos o nosso organismo produz altos níveis da hormona de crescimento que promove a renovação celular necessária à reparação muscular após exercícios físicos intensos.

Embora o número de horas de sono recomendado varie de indivíduo para indivíduo, no que diz respeito a atletas existe um consenso geral que recomenda entre 7h a 9h por noite, salientando que não se devem deitar após a meia-noite.

 

Nutrição

Consultar artigo da nutricionista Ângela Henriques sobre a dieta de recuperação para atletas.

Massagem

A massagem é um meio amplamente usado na regeneração muscular, prevenindo lesões, libertando os tecidos de contracturas musculares e ajudando a libertar o tecido fascial. Também ajudará de forma indirecta no alongamento e flexibilidade.

Por meio da massagem estimulamos o fluxo sanguíneo à área em questão, aumentando e acelerando dessa forma a regeneração tecidular desses segmentos.

Idealmente convém realizar a massagem com profissionais adequados, como massagistas ou fisioterapeutas.

No entanto poderá recorrer a outros meios “semelhantes” como serão a auto-massagem, hidromassagem/jacuzzi ou os bastões de auto-massagem.

A auto-massagem consiste em aplicar um creme hidratante /óleo de massagemassagem1m pelos segmentos mais sacrificados no treino/competição e faze-lo de forma lenta no sentido de drenar os produtos do catabolismo celular até à base (no sentido da axila no caso do membros superiores e no sentido da virilha no caso dos membros inferiores). Adquirir este hábito, por exemplo após o banho, é importante porque dá ferramentas ao atleta de perceber o seu corpo e se tem contracturas, aumento de volume de segmentos, etc.

massagem2Se optar por recorrer à hidromassagem ou jacuzzi estará a beneficiar de um jacto de água a forte intensidade contra os seus músculos que favorecem a drenagem muscular e tentam remover contracturas musculares.

Poderá ainda adquirir um bastão de auto-massagem, que actua de forma muito semelhante ao rolo de trabalho miofascial, enumerado acima. Ao rolar o bastão pelos grupos musculares pretendidos estará a promover uma drenagem do músculo e também dos seus produtos de catabolismo celular e poderá ainda beneficiar do facto de facilmente ajustar a pressão exercida pelo bastão no músculo.

Em forma de conclusão penso que vale a pensa salientar que cada atleta ou praticante de actividade física tem nas suas mãos muitas das ferramentas para aumentar a sua performance desportiva. Tem que ser racional e consciencioso de forma a planear respeitando o treino e os descansos e ouvindo também os sinais e sintomas do corpo.

Se permanecerem dúvidas não hesitem em contactar (aleite86@gmail.com)

Bons treinos!

Corrida: tipo de passada e calçado

imagem1A locomoção natural do Homem não se faz na água nem no ar. O nosso meio natural de locomoção é a terra e por isso marchamos, caminhamos e corremos. É-nos inato.

Quando a marcha se faz a uma velocidade mais elevada, a uma velocidade que ativa o nosso organismo e nos pode levar a adaptações favoráveis, temos que responder com mais intensidade, o que nos leva a correr.

Correr implica não apenas uma ativação funcional (pois para isso bastaria um simples ergómetro, bicicleta estática..etc). Correr é mais, muito mais! Correr é explorar o espaço, a natureza, os trilhos, os lugares, as pistas, as montanhas, o deserto.

Contudo não basta fazê-lo apenas com prazer. Temos que ser pro-activos no que respeita à nossa saúde e por isso tomar medidas preventivas.

Ao caminhar, marchar ou correr deslocamos o nosso corpo no espaço à custa do único ponto de contacto com o solo: os pés. Estes são os primeiros receptores das forças de reação do solo durante a corrida, tornando-os mais propensos a lesões.

Assim sendo torna-se importante conhecer o tipo de passada e apoio do pé no chão de forma a escolher o calçado mais adequado para a prática da corrida.

A forma da passada de cada indivíduo é determinada pelas suas características anatómicas, nomeadamente o tipo de pé. Assim consideram-se e classificam-se os tipos de pés em 3 grandes grupos: pé normal, pé plano, pé cavo.

 

Pé Normal / Passada Neutra

É o tipo de pé “mais equilibrado” que conduz a uma passada com imagem2maior equilíbrio, onde o impacto é uniforme e considerado o ideal. Existe um nível estável entre uma ligeira supinação e pronação (8º a 15º) o que cria uma absorção de choques eficiente na fase de apoio da passada. A parte externa do pé contacta primeiro o solo (mínima pronação) e logo de seguida o pé roda ligeiramente para dentro (mínima supinação).

O arco do pé tem uma altura média e o calcanhar permanece em posição vertical em relação ao solo. Neste tipo de passada há um movimento uniforme desde o calcanhar até a ponta do pé e a sola do calçado desgasta-se de uma forma homogénea.

Um corredor “neutro” é geralmente “mais biomecanicamente” eficiente e o risco de lesões é menor.

imagem3

 

Pé Plano / Passada Pronadora

O pé plano surge quando há uma rotação interna excessiva do péimagem4 e do tornozelo, sendo conhecido como “pé chato”. Todos os corredores realizam este movimento de rotação interna do pé (pronação), mas neste tipo de passada é feito de forma exagerada.

Durante a passada há um apoio da face externa do calcanhar e logo se seguida há um movimento excessivo do pé para dentro, criando uma grande sobrecarga na parte interna do pé. Existe portanto, um maior desgaste na sola do calçado do lado interno.

Este tipo de passada coloca maior tensão na estrutura do pé, o que pode provocar desalinhamentos no tornozelo, joelhos e os ancas. Há um risco acrescido de lesão no tendão de aquiles, fáscia plantar,  tendão do rotuliano e banda iliotibial. Normalmente este tipo de pé apresenta excesso de flexibilidade causando uma instabilidade do pé e tornozelo.

imagem5

 

Pé Cavo / Passada Supinadora

A supinação é o oposto da pronação. Neste tipo de pé existe umaimagem6 sobrecarga na parte de fora do pé. O movimento da passada inicia-se com o apoio da face externa do calcanhar, poderá ocorrer uma ligeira pronação, mas caracteriza-se de seguida, por um excessivo apoio na face externa do pé, terminando assim a passada (face de apoio do pé no chão). Tal como na pronação, as forças durante o ciclo da pisada não são distribuídas de igual forma pelo pé, que se apresenta com um arco do pé demasiado alto. A sola do calçado fica mais gasta na parte externa.

O peso corporal fica mais distribuído na face externa do pé e dedos do pé. Há uma grande predisposição para os entorses do tornozelo.

imagem7

Conhecendo o nosso tipo de pé anatómico e a forma da passada torna-se mais fácil escolher o tipo de calçado.

Pelo acima descrito facilmente depreendemos que a escolha do calçado mais adaptado ao nosso pé nos permite aumentar o desempenho desportivo como prevenir lesões, uma vez que minimiza as consequências da sobrecarga gerada por uma passada “não normal”. E não podemos esquecer que estamos a prevenir lesões não só na estrutura pé e tornozelo, como também joelhos, ancas e mesmo a coluna.

A forma como podemos perceber o nosso tipo de passada pode ser variada. O ideal e recomendado é ser avaliado por uma pessoa especializada. Um médico, fisioterapeuta ou técnico da área do desporto com conhecimentos desta vertente.

O profissional de saúde conseguirá fazer a avaliação sem recorrer a muitos meios físicos e tecnológicos. Por vezes a análise postural e dinâmica da marcha/corrida dá-nos toda a informação. Algumas lojas desportivas já estão munidas de tecnologia que fornece as informações necessárias à correta aquisição do calçado, como sejam as plataformas de avaliação podobarométrica, que faculta dados como a morfologia do pé, pressões plantares, “pegada” durante a passada e os desvios antero-posteriores e laterais. É evidente que cada indivíduo pode recorrer a métodos mais “caseiros” como seja a análise da sola do calçado que nos indica qual a zona de mais pressão, recorrer a fotografias ou vídeos, ou por exemplo, envolver o pé em pó de talco e caminhar numa superfície lisa e avaliar posteriormente o tipo de passada. Contudo estas avaliações não são tão rigorosas. É importante realçar que além de uma análise estática do tipo de pé ou passada deverá dar-se primazia à análise dinâmica do tipo de passada durante o gesto técnico, neste caso da corrida.

Para além dos aspectos já falados existem outras categorias que influenciam a aquisição de calçado desportivo, como sejam: peso do atleta, piso onde corre, ritmo a que corre, história clínica de lesões, etc. Por exemplo, para indivíduos mais pesados a escolha deve recair em calçado com maior capacidade de amortecimento, para ritmos de corrida mais altos a escolha deve ser de ténis mais leves e para atletas com histórico de lesões de sobrecarga ou por exemplo de patologias da coluna lombar deverão ser escolhidos ténis com bom amortecimento.

De facto a modalidade praticada influencia bastante o tipo de calçado a adquirir. Em nada anula o já falado anteriormente. Só vem acrescentar e especificar a escolha do calçado. Não é igual comprar um calçado para corridas de velocidade do que para provas de trail.

Embora a oferta no mercado seja imensa, vamos tentar esquematizar as grandes categorias no diz que respeito a calçado de corrida:

Tipos de calçado segundo o tipo de pé e passada

Calçado Neutro

Grande amortecimento (absorção do impacto) e pouco suporte do arco plantar
Calçado Supinador Grande amortecimento e praticamente sem suporte do arco plantar. Muito semelhantes ao calçado neutro
Calçado Pronador

Suporte interno rígido combinado com um bom amortecimento. Ténis muito estruturados

 

Características especificas do tipo de calçado e modalidade praticada:

TRAIL

 A prática de trail envolve terrenos com trilhos acidentados e/ou com declives acentuados. Por isso o calçado especifico para trail possui solas mais agressivas que as solas dos sapatos de estrada.  Isto porque quanto maior for a dureza e tecnicidade do terreno, maior terá que ser a firmeza e agressividade da sola, de forma a melhorar a estabilidade e tração. Alguns modelos de ténis de trail incorporam nas solas pequenos pitons em metal, de forma a aumentar a tração.

Também a sola intermédia possui uma pequena característica específica: placas em termoplástico para proteger o atleta das irregularidades do terreno e para aumentar a sua estabilidade. Desta forma reduz-se a quantidade de material usado na sola, aproximando o centro de gravidade do ténis ao solo.

 A parte do ténis destinado aos dedos dos pés é protegida com tecido ou borracha, para que, em trilhos mais acidentados ou com pedras, os dedos sofram o mínimo impacto, além de melhorar a durabilidade dos sapatos.

Por fim importa salientar que existem modelos de ténis para trailimagem8 com maior ou menor grau de impermeabilidade que é um factor importante para a correcta respiração e perda de calor corporal pelas extremidades inferiores.

CORRIDA de VELOCIDADE

Para a corrida de velocidade o atleta necessita de um calçado mais leve e flexível (mais baixos) para que o esforço a cada passada seja menor. Para o sapato ficar mais leve (pequenas gramas podem fazer diferença) por vezes retiram-se (15‰) materiais associados à estabilidade e proteção e o cuidado ao usar estes equipamentos deve ser maior. A reduzida proteção dos sapatos de velocidade aumenta o risco de lesão.

Normalmente a sola é feita em borracha ou borracha combinada com sintéticos, possuindo normalmente uma placa em plástico resistente ou compostos sintéticos na zona do ante-pé. São sapatos muito leves, com estruturas superiores em lona, “nylon”, couro sintético, etc.

Neste campo podemos sub-dividir em várias categorias: sapatos deimagem9 bicos para pista, sapatos para meio-fundo e fundo, sapatos para salto em altura, salto em comprimento, lançamentos e corta-matos.

Geralmente o calçado de velocidade tem que ser usado de forma muito justa ao pé.

Na hora de adquirir um calçado de corrida, para treino ou competição, lembre-se que pode ajudar em muito o seu desempenho e a sua saúde! Basta estar um pouco mais desperto para estas questões!

Se permanecerem dúvidas não hesitem em contactar (aleite86@gmail.com)

 

Bons treinos!