Há precisamente um mês, a vida do João Moita entraria num novo ciclo. O Ironman muda a vida de qualquer atleta, mas esta aventura foi muito mais além. 10 horas e 55 minutos que resumiram um ano em cheio para o nosso atleta. Pelo meio, aconteceu um momento mágico. Leiam o relato do João e sintam a aventura do Ironman Barcelona 2018.
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Com a noção que a minha motivação me levaria até à meta, só tive que preparar o corpo para acompanhar a cabeça.
Foram meses de treino, nem todos os dias de treino foram respeitados mas sempre com o objetivo bem definido.
Fui realizando algumas provas ao longo do ano, sempre de equipamento Beat Your Limit!, de modo a exigência das provas no meu treino. Assim sendo, completei dois Mediofondo, fiz as etapas do circuito a norte de Triatlo com a distancia 2km/60km/15Km, o Triatlo longo de Caminha e o fim-de-semana no Douro no qual fiz um Olimpico no Sábado e um longo no Domingo.
Com alguns treinos em equipa com os meus amigos da Associação Beat Your Limit!, somei mais uns quilómetros de bicicleta, como por exemplo a ida de Matosinhos até ao cima da Sra da Graça.
Chegando a Calella, fui engolido pelo espirito IronMan. Se andava ansioso com o aproximar da data, chegando lá ainda mais ansioso fiquei. Fiz um treino de reconhecimento e apresentei-me ao palco dos sonhos.
Cumprir os horários e toda a logística IronMan com a minha companheira de longa data foi a prioridade. Após isso era disfrutar da localidade e de toda a envolvência da prova.
Finalmente o dia 7 de Outubro chegou.
Dia de colher o que andei a semear desde o final do ano 2017.
Todo o ano foi planeado com o objetivo principal de concluir o IronMan Barcelona 2018 e se possível conseguir também o segundo objetivo – 11 horas.
Acordar ainda de noite e com alguma chuva a intimidar aqui o jovem que estava em pânico.
Eu e a Cristina no caminho para a prova tínhamos noção que seria um dia que iria marcar as nossas vidas. Vá eu saiba de coisas que ela não sabia mas já vou chegar a esse ponto
Após todo o material no parque de transição, foi tempo de ir para a areia esperar pelo início da prova. Felizmente, tive sempre a Cristina por perto, estava muito frio e por vezes chovia. Defini que ia começar no grupo de natação 1h15m, sabia que era um tempo possível para mim e que se fizesse depois desse tempo era sinal que não me tinha corrido bem.
Até começar a prova foi uma longa espera, na qual ouvi musicas de motivação e tinha a emoção toda a sair-me pelo corpo. Olhar à volta e perceber que muitos partilhavam o mesmo sentimento, é indescritível.
Finalmente, está na hora de carregar no Start do relógio e começar o IronMan. Entrada na água com um quebra na linha de água, deu logo para mergulho animado. Como sempre na minha natação a preocupação é orientar-me bem em direção à boia seguinte. Como estava o mar agitado e com tanta gente foi difícil no inicio. Depois percebi que não precisava de estar sempre a olhar para a frente quando tinha a cabeça fora de água, pois debaixo de água parecia que estava num aquário gigante, logo conseguia ver em que direção todos os triatletas estavam a ir. Aproveitei e guiei-me por eles. Consegui fazer uma natação melhor do que esperava pois conclui com 1h10m aproximadamente e recorri pouco ao estilo bruços que me é mais confortável mas também mais lento. Aguentando bem o ritmo no crawl, a grande adversidade nos últimos 1000 metros foi o cheiro da água que me enjoou, mas perante um sonho não vai ser um enjoo que te vai parar.
Saída da água confusa com elementos da organização a retirarem participantes da água pois estes estavam exaustos. Segui o meu trajeto para a tenda, pelo caminho passei-me por água doce e refresquei-me.
Que sonho de parque de transição…parecia um aeroporto com tanto avião. Quando cheguei perto do meu avião quase “Low-Cost” só lhe perguntei se ela estava pronta… até chiou com a adrenalina.
Resumidamente, o ciclismo teve duas partes distintas, os primeiros 90km diverti-me imenso a andar a ritmos acima do previsto e os segundos 90km a pensar que tinha uma maratona para fazer e obrigatoriamente teria que abrandar. A KTM Lisse não desiludiu e justificou todo o investimento feito nela.
Tinham-me vendido a ideia de um percurso plano, enganaram-me bem. Sim tinha muitos momentos rolantes mas também algum sobe e desce que só é fácil para quem se baseia nos números que os relógios marcam e não sentiram o que nós sentimos. O meu garmin deu cerca de 1600 mts de acumulado.
Assisti a quedas, a diferentes níveis de ciclistas, diferentes bicicletas e uma organização 5 estrelas na estrada. Na única vez que os juízes falaram comigo foi para me mostrarem cartão azul o que me levou a um penalty box de 5 minutos. Duas opções, desmotivar e reclamar com alguém que não percebe a minha língua ou aproveitar para descansar e hidratar nesta pausa forçada. Optei pela segunda, apesar que senti dificuldade em voltar à cadência anterior à paragem, mas penso que faltavam cerca de 15km para acabar o segmento de ciclismo.
Tal como ao sair da localidade, no momento de retorno a Calella, os acesso obrigam a abrandar até ao parque de transição.
Consegui concluir o ciclismo com o tempo de 5h22m.
Acabando o ciclismo, tive que fazer a pausa para o wc. Tinha muita água no corpo. Perdi mais tempo do que esperado nesta transição devido a essa situação e como o fato é peça única foi difícil despir e voltar a vestir.
Inicio da Maratona. Fazer 2km até vermos a meta e depois começar as 3 voltas de 13,5km aproximadamente e só aí sou um ironman.
Nesses 2km só quis saber onde ia estar a Cristina para receber aquele apoio e beijo motivacional para o que vinha pela frente. Lá estava ela sempre com o sorriso e ansiosa para que eu realizasse o meu sonho nas melhores condições possível.
Durante a maratona, houve espaços com muito público e esse público empurra-nos para correr mas também existem momentos com menos apoio. Nesses momentos pensamos em muita coisa e em muita gente, nas pessoas que acreditaram em mim, nas que não acreditaram em mim, nas que estão vivas e por vezes são esquecidas. Nas que já partiram mas continuam presentes, no meu passado desportivo, nas minhas quedas, nas minhas superações, na minha família, nos meus alunos e atletas, nas minhas novas amizades no clube Beat Your Limit! que tão bem me recebeu e me acarinha. Pensei nas opções que tomei e nas que estava a tomar, pois aliado a concluir um IronMan tinha tomado a opção de pedir a Cristina em casamento.
Até à meia-maratona, voei a ritmos acima do previsto e com um bem-estar assustador, ao concluir a segunda volta combinamos entrega das bandeiras para a ultima volta, logo ela ia estar preparada para o que ia acontecer (ou não).
No inicio da 3ª volta, todas as palavras ensaiadas com todos os movimentos corporais pensados e todo o filme que tinha criado na minha cabeça, não apareceu. Saiu-me um Casa Comigo e um anel que levou a um: Claro que sim seu Tolo!
Aí começou o desfile final, durante a ultima volta, com o tornozelo a falhar e a sentir necessidade de comer, mas sempre de sorriso no rosto e bandeiras bem levantadas para todos saberem que um português BYL! estava a passar. Ao ritmo que estas limitações me puseram fui até ao final sempre a controlar o tempo para concluir abaixo das 11horas. Até que faço a ultima curva e entro na reta dos sonhos (que arrepio), e após cortar a meta ouvir: João Moita, You are an IRONMAN!!!
Foi o nosso dia, pois para haver um IronMan há sempre uma IronWoman!!
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O João concluiu a prova em 10 horas 55 minutos e 12 segundos. Começou namorado e terminou noivo! Um Ironman que mudou a vida do João para sempre!
A Associação Beat Your Limit! felicita o João por esta conquista e deseja muitas felicidades para o futuro do João e da Cristina. Muitos Parabéns!
BEAT YOUR LIMIT NOW!